O Poder do Jogo Educativo

Quando jogamos sentimo-nos livres, sentimo-nos em contacto com quem estamos a jogar e com o propósito do próprio jogo. Jogar implica realizar uma série de actividades, físicas, cognitivas e emocionais, que nos permitem atingir um fim e, simultaneamente, desfrutar de momentos considerados alegres e prazerosos para todos os jogadores, mesmo que o jogo envolva competição.

O recurso ao jogo remonta às práticas na Grécia Antiga e com o surgimento dos Jogos Olímpicos ou mesmo com os jogos típicos do Oriente, como forma de entretimento e de desafiar capacidades físicas e intelectuais. Surge como forma de afirmação cultural, apresentando-se como um elemento chave na vida dos homens, expressando-se ao longo de todas as épocas e como crucial no desenvolvimento social e humano.

Platão afirmou que se pode «[…]descobrir mais acerca de uma pessoa numa hora de jogo, do que num ano de conversação», e há autores que defendem a coexistência do Homo ludens e do Homo sapiens como forma de realçar o papel do jogo na existência humana (Huizinga, 1996).
Ao longo dos anos de 1960 foi ganhando espaço nas intervenções realizadas principalmente nos EUA junto de grupos e de comunidades, tornando-se evidente a importância do jogo como instrumento nas intervenções educativas e sociais. Na Psicologia, muitos foram os autores que sublinharam a sua importância no no processo de socialização e no desenvolvimento cognitivo, tais como Schaffer, Piaget ou Vygotsky. Além de se apresentar como forma de facilitar o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem (Baquero, 1988), o jogo potencia o desenvolvimento da criatividade e do modo como os jogadores aprendem a resolver problemas para os quais não vêem soluções, levando as pessoas a questionarem-se sobre os seus próprios pressupostos, a avaliá-los e a redefini-los (Sternberg & Williams, 1996).

Por outro lado, o jogo apresenta-se como um momento único de estar em cooperação e colaboração com o outro (Bahia, Gomes, Barreiros & Gonçalves, 2006), ao mesmo tempo que permite o desenvolvimento da autonomia (Freire, 1997) e do auto-conhecimento (Barbeiro, 1998).

Torna-se assim evidente que o recurso ao jogo como ferramenta educativa permite à criança experimentar um conjunto de destrezas fundamentais à aprendizagem do real e de si.
Através do jogo, a criança joga a sua socialização como forma de representar diferentes papéis e emoções. Há uma oportunidade única de assimilar o real (o que vê, o que observa) ao mesmo tempo que adequa e desenvolve a sua própria personalidade.
O jogo é uma ocasião informal e altamente lúdica que por si só, e sendo uma actividade de participação voluntária e livre, permite encontrar sentimentos de alegria e de ser diferente do que se é na vida normal (Huizinga, 1996, p. 29) – a criança torna-se nela própria e em todas as possibilidades de ser.

Por este conjunto de razões, criámos o Desenvolvimento pela Arte para ser um espaço capaz de dar o espaço e a liberdade para a criança experimentar todas as suas possibilidades e a dos outros, ou seja, que seja capaz de se conhecer melhor a si, ao outro, desenvolvendo competências como a resolução criativa de problemas, cooperação, autonomia, sentido crítico em actividades que lhe conferem momentos de alegria, brincadeira e bem-estar.
Nas palavras de Bahia, Gomes, Barreiros e Gonçalves (2006) «sem dúvida que o jogo está na génese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e, mesmo, de transformar o mundo» (p. 144).

E ao considerarmos o poder do jogo educativo, consideramos o quão importante é toda a dimensão da expressão individual.

Inês Hassamo




Referências Bibliográficas
Bahia, S., Gomes, C., Barreiros, F. & Gonçalves, R. (2006). Um jogo cooperativo como estímulo à criatividade. Sobredotação, 7, 135-148;
Huizinga, J. (2003). Homo Ludens – Um estudo sobre o elemento lúdico da cultura. Lisboa: Edições 70;
Barbeiro, L. (1998). O jogo no ensino-aprendizagem da língua. Leiria: Legenda;
Sternberg, R. J., & Williams, W. M. (1996). How to Develop Student Creativity;
Freire, P. (1997). Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra;
Baquero, R. (1998). Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas;










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